Numa conversa de café, ouvi uma mulher dizer que este dia não lhe diz absolutamente nada porque não teve o pai que gostaria ter, aliás que só era pai de nome porque de resto não pode contar com a ajuda dele para nada e portanto não ia estar com hipocrisias, a colega prontamente lhe disse que não devia de ser assim porque pai há só um e por muito mau que tenha sido é sempre nosso pai, ao que a primeira lhe respondeu que se via perfeitamente que esta teve um pai porreiro, presente e por isso não tinha a noção do que era viver sempre na esperança de receber algum tipo de afecto ou a simples presença portanto é normal que não entendesse o sentimento dela.
Vim para o escritório pensar naquelas palavras e revi-me nos dois discursos. Olhando para trás vejo que o meu pai não foi, de todo, um pai presente, afectuoso e que sempre viveu para a família, chegou a ser assim mas foi por tão pouco tempo que só tenho uma meia dúzia de memórias e foram sempre essas miseras memorias que me fizeram tentar entender os seus motivos e até mesmo a perdoa-lo (este processo ainda não está concluído mas lá chegarei) porque durante muito tempo acreditei que um dia ele pudesse voltar a ser assim. Fui mantendo essa esperança de uma forma tão intensa que nem a magoa, as desilusões constantes foram fortes o suficiente para a destruir. Por mais que tente, não consigo explicar melhor este sentimento...
Os anos foram passando e quando, finalmente, ele tomou consciência do seu comportamento e quis tentar ser melhor...não o consegui receber de braços abertos como sempre pensei que o fosse receber...fiquei reticente e cheguei à conclusão que estavam ali duas pessoas que, até podiam gostar imenso uma da outra, não se conheciam verdadeiramente...eu não o conhecia, o seu lado de pessoa fechada e não dada a sentimentalismos não me deu oportunidade...nem ele me conhecia, não sabia quem eu era...aquela menina que o julgava um herói e ficava a mendigar o seu tempo, ficou lá no passado! Quando veio, mesmo de coração cheio...fiquei reticente, será? Será que não vens e depois vais e voltas ao mesmo?
Se veio tarde, veio...muito! Mas continuamos a lutar por nos darmos bem, ele também faz por isso...já eu, tenho os meus dias! Há dias que me orgulho das lutas que travou contra si mesmo e saiu vitorioso (essas lutas é que causam este afastamento) e depois há aqueles dias menos bons (hoje é um) em que me custa aceitar e a entender determinados comportamentos...mas aí olho para mim e vejo que graças a esses caminhos mal traçados por ele, mas dos quais não consegui fugir, aprendi e tornei-me numa pessoa melhor e aí agradeço-lhe...
Obrigada...
Feliz Dia do Pai...