quarta-feira, 30 de março de 2016

A minha ausência, a minha ausência (imaginem a música d'A minha agenda, sim estou a ficar velha)

Não ponho cá os pezitos há uns tempinhos, e gostaria de ter uma motivo altamente espectacular  do género"Olha tipo deu-me na telha e fui viajar até Itália, em Roma cruzei-me com o Papa Francisco, bastou dizer que conhecia o Henrique Cymerman, e muito amavelmente me convidou para almoçar. À noite fui ao cinema e não é que estava lá o Sílvio Berlusconi? O tipo ordenou querer ver novamente o Padrinho, diz que é o seu filme favorito e seja feita a sua vontade. Fui a Florença comer uma pizza e ainda percorri os campos da Toscana tipo música no coração, só me faltava o avental branco...e o corte de cabelo à tigela!"...mas não é nada disso. 

Deve haver uma meia dúzia de vocês que se pergunta " Mas onde raio anda aquela tipa?" tenho-vos a dizer que simplesmente estou a atravessar um período difícil na minha vida, dizem até que já estou com princípios de depressão, vejam lá! Eu que tinha uma disposição para encarar as dificuldades da vida admirável pois tentava ver sempre o lado positivo não importa o quão negro o cenário à minha volta pudesse ser, sempre sorri para a vida pois achava que ela me sorriria de volta...e tem sorrido, e muito, pois dou imenso valor aos sorrisos pequenos pois esses é que importam! O que parece que aconteceu é o que os meus 52 quilos, que julgava ser de puro aço, afinal parece que são de barro e começaram a mostrar umas rachadelas aqui e outras ali. Já tentei ir a uma cerâmica tentar por uns remendos mas os tipos dizem que não é bem assim. Parece que todos estes anos de luta (pura e dura) e de tanto positivismo por vezes forçado estão a mostrar as suas mazelas e está a ser muito difícil para mim gerir isto. Precisamente pelo facto de que sou daquelas que resolvo sempre tudo, que tenho solução para tudo, que nunca baixo os braços e que desistir é para os fracos, inconscientemente tornei-me numa das vozes fortes da minha família, aquela que até os meus velhos ouvem e acatam, aquele que aparece sempre para ajudar de capa invisível, aquela que deixa a sua dor para depois porque agora é tempo de consolar o próxima...e ver-me nesta posição é tão, ou mais, difícil para mim do que a coragem que tive de reunir para ultrapassar determinadas dificuldades.

No meio deste reboliço psicológico tenho aprendido tanto...a principal é que afinal, às vezes saber desistir também pode ser visto como um sinal de grande força. Desistir daquilo que não vale a pena, por muito que o nosso coração nos prenda por vezes temos de dar ouvidos ao nosso cérebro quando este nos diz, "não vale mesmo a pena minha querida!". Por vezes, temos mesmo de pôr os sentimentos de lado e agir de forma racional, mesmo que isso vá magoar ou surpreender os que sempre acharam que nos tinham sempre ali. Às vezes temos de reunir coragem, não para lutar mas sim para desistir...e não deixar que a certeza de que algumas pessoas me vão colocar num lugar muito especial da sua lista de negra me demova.

Outra coisa que aprendi é que ser grato é muito diferente de estar para sempre disponível para pessoa só porque nos ajudou. Eu posso ser grata e seguir com a minha vida e nunca esquecer aquele acto de bondade e desejar-lhe em dobro o que desejo para mim e se puder ajudar em algum momento, será uma honra! Mas o facto de alguém me ter ajudado em determinado momento não implica que devo estar disponível para retribuir essa ajuda para todo o sempre...isso para mim já deixa de ser uma ajuda e passa a ser um favor. E esse favor (só agora é que me apercebi que afinas era um favor)  acho que já o paguei de uma forma bem cara...com a minha saúde mental!

A semana passada, após uns acontecimentos menos bons mas que só me fizeram mostrar o quão burra estou a ser...e isso deitou-me tão abaixo que chorei o que não chorei durante anos afligindo a minha pobre mãe que, como sempre, vestiu a pele de leoa. A decisão está tomada...vou tomar as rédeas da minha vida e não posso deixar demover-me por sentimentos de gratidão...agora chegou a minha vez!! Nunca desisti de ver a luz ao fundo do túnel...afinal eu pago à EDP todos os meses para alguma coisa é!!

Estou na dúvida se levo este testamento aos notários!!

Por aqui estamos assim...

Quando é que passará esta noite interna, o universo, 
E eu, a minha alma, terei o meu dia? 
Quando é que despertarei de estar acordado? 
Não sei. O sol brilha alto, 
Impossível de fitar. 
As estrelas pestanejam frio, 
Impossíveis de contar. 
O coração pulsa alheio, 
Impossível de escutar. 
Quando é que passará este drama sem teatro, 
Ou este teatro sem drama, 
E recolherei a casa? 
Onde? Como? Quando? 
Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo? 
É esse! É esse! 
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei; 
E então será dia. 
Sorri, dormindo, minha alma! 
Sorri, minha alma, será dia!


“Magnificat” de Álvaro de Campos

quarta-feira, 2 de março de 2016