E dois anos depois, regresso...pelo menos por hoje!
Estive tanto tempo ausente que quase já nem sei trabalhar com isto :).
Aproveitei para ler algumas coisas que escrevi e é engraçado olhar para a data e saber exactamente como estava naquele dia.
A
minha vida mudou tanto, mas tanto nestes últimos dois anos que ao ler
algumas das linhas que escrevi quase que não me reconheci...é verdade!
O
motivo da minha ausência deveu-se a uma depressão/esgotamento que sofri
e me obrigou a repensar tudo! Foi, e continua a ser, um dos períodos
mais difíceis da minha vida e olhem que a minha vida está cheia de
períodos difíceis, não falta escolha :)
Vi-me
numa situação para a qual não estava preparada (e logo eu que estava
sempre em alerta vermelho, pronta para tudo). Ver o tapete a ser puxado
debaixo dos meus pés sem que nada pudesse fazer (ou ter forças) para
impedir foi algo que me deixou devastada...comigo mesma!
Demorei
algum tempo até aceitar que afinal não era aquela força que sempre fui e
que, principalmente, sempre habitou os outros. Eu era o porto de abrigo
de todos, a resposta para os problemas dos outros, aquela que estava
sempre lá e sentia-me feliz por saber que pude contribuir de forma
positiva na vida dos outros...o problema é que não cuidava de mim com a
mesma atenção com que cuidava dos outros. Não me "via", aliás, evitava
"ver-me" porque no fundo sabia que era uma tarefa para a qual não estava
preparada portanto mais valia fazer de conta que estava tudo bem.
E
resultou durante muitos e muitos anos, fui (ainda sou) muito boa a
camuflar os meus sentimentos, tive performances dignas de Óscar para
"Melhor performance de alguém completamente destruído por dentro mas que
miraculosamente consegue sorrir e acenar". Os meus sempre se habituaram
a ver-me sempre com genica, a estar em todas e por todos e não queria
desaponta-los. Incrível como aquilo que os outros pensam têm, realmente,
um impacto brutal nas nossas vidas, aos ponto de nos anular-mos para
corresponder as suas expectativas.
Mesmo
sabendo que estava a cair dentro de mim mesma, consegui esconder de
todos...e que duro foi! Tinha dias que me doía o corpo todo de tanta
força que fazia para me conseguir manter de pé, deixei de dormir, deixei
de comer...deixei de ter vontade de viver (nunca pensei em morrer mas
só não tinha forças para lidar com a vida e tudo o que ela implicava)!
Era uma sombra sem luz...conseguir ver o relevo dos ossos na minha pele
sem vida era devastador.. descobri que a magreza doí...acreditem que
doí!
A
minha mãe era a única a ver-me mas eu não deixava ninguém se aproximar,
genuinamente achei que era só uma fase menos boa e que ia dar a volta
rapidamente, como sempre dei (achava eu)...não deve haver dor maior para
uma mãe do que ver o seu filho a perder-se sem que deixe que o guiem.
Até
que um dia, caí mesmo, redonda! Aí tive de deixar que, pela primeira
vez, fossem outros a aparar-me. E descobri que não tem mal entregar as
armar para que outros lutem por ti. E aí é que descobres quem
verdadeiramente se importa e te valoriza e fui confrontada com a dura
realidade que afinal não são assim tantos quantos pensavas, afinal já
não tinhas utilidade naquele estado...é duro, mas é a verdade que senti!
Este
meu estado deveu-se a acumular dentro de mim anos e anos de duras
vivências e provações mal resolvidas, primeiro porque não havia tempo
pois tínhamos forçadamente seguir para a frente, tínhamos mesmo lutar
para conseguirmos manter o pouco que tínhamos e as poucas forças eram
usadas só para isso, não tínhamos tempo para sentar um pouco e pensar no
tinha acabado de acontecer...não dava. E depois com o passar do tempo
fui achando que não fazia sentido estar a reviver o passado, era
demasiado doloroso e simplesmente fui usando o meu sentido de humor para
disfarçar a minha tristeza e afundei de cabeça na minha vida
profissional para não ter tempo livre, para não correr o risco de estar
sozinha e todos esses pensamento tomarem conta de mim. Só agora é que
tive consciência desse luta interna que travei.
Foi
o meu maior erro...ao fim de tantos anos o meu corpo não aguentou e
cedeu! Isto foi há dois anos...e ainda estou em fase de recuperação e
sei que nunca se estará recuperado totalmente, é uma luta constante, mas
não faz mal....
Quando
me perguntam o que é que sentia...a melhor forma que consegui arranjar
para descrever foi pedir que imaginassem que se estão a afogar e por
muito que lutassem simplesmente não conseguiam vir à tona, que
imaginassem o que é viver assim todos os dias...não sei se me
compreenderam...até porque também descobri que as
depressões/esgotamentos são ainda olhadas de lado pela sociedade. Muitos
acham que basta dizerem "Tens de andar para a frente!" ou " Não penses
nisso! Arrebita" que é o suficiente e que depois de ouvir tais pérolas
simplesmente ficamos curados, qual nossa senhora de Fátima qual quê! Mas
não é assim que funciona...
Sofri
(e sofro) muito mas aprendi muito mais, sobre a vida, sobre os outros
mas principalmente sobre mim e estou a adorar conhecer-me, a estar
comigo!
As vezes chegar ao fundo do poço tem a sua parte boa...qual é? É que daí só se saí subindo :)
Aos
que me lêem, só vos deixo isto: Não tenham medo do que sentem, não
tenham medo de dizer o que pensam ou o que sentem, de sofrer, de amar,
de se desiludir, tudo faz parte da vida, mas sobretudo não deixem que
sejam os outros a fazerem as escolhas para a vossa vida...não se deixem
aprisionar neste mundo onde ser-se insensível começa a ser norma. Mas sobretudo, não tenham medo de pedir ajuda...so fraqueija quem foi forte por demasiado tempo.
Sejam felizes!